sexta-feira, 17 de julho de 2009

Batatas e Urbanização

Quando descobri, ainda na escola, que os europeus não conheciam o tomate, a cana-de-açúcar, o milho, o café, o feijão ou o cacau antes das Grandes Navegações, fiquei matutando como seriam monótonas as mesas e os banquetes naqueles tempos. Tá certo, por causa da série ilustrada "Povos do Passado", já tinha na minha mente a imagem de festins medievais com muita carne ou de orgias greco-romanas com vinhos, peixes, queijos, pães e mel em fartas porções.

Todavia, era difícil naquela idade conceber como era possível uma civilização que não comia chocolate, nem pizza, nem pipoca, e nem adoçava a sua vida com açúcar.

Mais chocante ainda: eles não conheciam a batata! Inacreditável. Quase tudo de bom na culinária leva batata.

Eis que uma pesquisa recente, da lavra de Nathan Nunn e Nancy Qian, tenta mostrar que, se não fosse pelas batatas, a Europa não teria passado pelo rápido processo de urbanização e crescimento demográfico verificado nos séculos XVIII e XIX.

Os dois cientistas desafiam a tese que aprendemos na escola, de que teria sido a revolução na medicina e no saneamento a responsável pelo veloz aumento do crescimento vegetativo do continente. As regiões mais apropriadas para o plantio do vegetal, argumentam, seriam aquelas que teriam experimentado o maior salto populacional. A mesma quantidade de terra cultivada antes agora podia gerar mais calorias - já que essas são abundantes nas deliciosas batatas, como todo mundo em fase de emagrecimento deve saber.



"Os comedores de Batatas" - Vincent Van Gogh, 1885 - Museu Van Gogh, Amsterdã

Então, o salto populacional mundial de 300 milhões para 1,6 bilhões de almas, entre o ano 1000 e o ano 1900, aliado ao surgimento das metrópoles e ao rápido desenvolvimento econômico e industial, seriam culpa das batatas fritas, purês, sopas de batatas e afins.

E assim, os alemães viraram experts no uso das batatas, assim com os italianos no uso dos tomates, para a felicidade geral dos estômagos mundo afora.

Portanto, da próxima vez que você for se empanturrar com uma salada de batatas ou com um nhoque, em vez de se arrepender, lembre-se disso...

3 comentários:

Oyama disse...

Pode fazer sentido. Se não me engano, no filme Daens os operários aparecem comendo sopa de batata. E era só o que tinha.

Joao Vitor disse...

Bom, base de dieta de qualquer populacao que se preze tem que ter carboidrato.

O boom chinês deve ter causa no arroz.

Agora que esse negócio de batata todo dia cansa, isso cansa. Mensa: Knödel, spätzle, batata frita, batatinha cozida. Putz!

Ainda bem que no Brasil misturmaos o melhor de tudo: é batata, é arroz, é feijao, é mandioca.

A pena é que, mesmo com tanta variedade brasileira, há uma parcela subcondicionada, subnutrida, subdesenvolvida. E, para essa fome de dignidade, nao há batata que resolva.

Joao Vitor disse...

Toda populacao que queira crescer precisa de carboidratos. Base de energia para as atividades. O projeto Revolucao Industrial e suas fastidiosas jornadas nao dariam "certo" sem operários embuchados com algo barato e energético.

Talvez o culpado do boom chinês seja o arroz.

Agora, esse negócio de batata todo dia é um pé em las pelotas: Knödel, Spätzle, purê, batata frita e batata cozida!!!!

Fica uma saudadezinha da gastronomia brasileira: variedade, mistura, arroz, feijao, batata, mandioca,...A pena é que em meio a tanta variedade, sobram parcelas subnutridas, subdesenvolvidas, subhumanas. Para elas, nao há carboidrato que supra sua fome de dignidade.